Uma coisa é certa: todos os fãs e entusiastas de parques de diversões sabem como a história da Disneyland foi escrita. Um homem foi visitar um parque de diversões com suas filhas, viu ali um potencial a ser melhorado, e abriu em 1955 o seu próprio parque na Califórnia, Estados Unidos. 60 anos mais tarde, mais de 650 milhões de pessoas já passaram pelo local desde sua abertura. E esses mesmos fãs sabem como a Walt Disney World, na Flórida, ofereceu ainda mais espaço para o seu criador expandir suas visões e oferecer novas emoções e sensações para mais pessoas a cada ano - mais de 52 milhões de visitantes por ano - tornando este o resort com maior visitação e público em todo o mundo.
Mas há um outro parque temático, que fica no centro dos Estados Unidos, que, mesmo não recebendo o grande número de visitantes como os citados acima, a sua história de como começou, passou pela mão de vários empresários, acrescentou novas atrações, como uma montanha russa "assombrada" e algumas outras que marcaram, além do parque ser fechado e reaberto mais de uma vez (incluindo uma vez após uma tragédia terrível), tem mais voltas do que uma Space Mountain. E a questão de saber, ou não, se este parque continuará aberto por quanto tempo desta vez, ainda é uma incógnita.
Esta é a história fascinante do Kentucky Kingdom.
Os primeiros anos
O Kentucky Kingdom foi inaugurado na cidade de Louisville - terra dos cavalos e baseball -, no estado do Kentucky, em 1987. Uma companhia de Dallas, no Texas, arrendou 10 acres de uma feira, chamada de Kentucky State Fair, que acontece todo verão. O parque incialmente contou com atrações para crianças e jovens, incluindo um log flume e o famoso carrinho de bate-bate, embora tinha uma montanha russa indoor chamada de Starchaser, uma Schwarzkopf Jet Star II.
No entanto, o verão de 1987 não foi dos melhores - chuva excessiva e calor escaldante - fazendo com que a visitação fosse baixa. O dono do parque também cometeu o erro de "exagerar", comparando o Kentucky Kingdom com a Disneyland - o que, obviamente, estava bem aquém. Depois de um momento memorável, onde um grupo de escoteiros invadiu o parque com os brinquedos inoperáveis, o Kentucky Kingdom veio a fechar. O parque foi aberto apenas por uma temporada antes dos seus donos pedirem falência. Fazendo com que seus brinquedos fossem para outros parques e engenheiros e fornecedores ficassem sem pagamento.
Vida nova
O credor sênior do parque, o banco The Bank of Canada, contactou um investidor chamado Ed Hart, que se mudou de Nova Iorque para Louisville em 79. Hart era conhecido por resgatar empresas que estavam em apuros, mas ele não tinha a mínima experiência com parques de diversões e não estava afim de seguir com o negócio. Porém, depois que o banco forneceu mais informações sobre, Hart decidiu dar uma chance para este negócio. Ele montou uma equipe de investidores e, depois de pagar todos aqueles que o parque estava devendo quando foi fechado, o Kentucky Kingdom foi reaberto em 1990.
O nome do empreendimento permaneceu o mesmo, porém a sua equipe de gestão e operadores foram alterados. O parque também recebeu algumas atrações novas, como o Bluebeard’s Bounty, um barco viking da Huss; o Whirling Dervish, um brinquedo tipo um Scrambler (que mais tarde foi renomeado para Breakdance) e um Enterprise (o da imagem ao lado) também da Huss.
Outra atração que foi adicionada era a Vampire, uma montanha russa de aço, no modelo Boomerang da Vekoma, que foi construída em 85 num parque na China. Curiosamente, o parque queria se livrar da montanha russa porque os visitantes achavam que a atração era mal assombrada e não iriam andar nela por isso. Estranho, porém a Vampire, com sua história, poderia se encaixar bem pois um cemitério com mais de 200 anos está localizado as margens do Kentucky Kingdom. Este local também tem rumores de ser mal assombrado.
Algumas das atrações originais do parque voltaram a operar nesta nova fase. É o caso do Tin Lizzies, um passeio de carros antigos (imagem ao lado), e a Starchaser. Mesmo que essa montanha russa tinha sido vendida, Hart conseguiu, assim que assumiu as rédeas do parque, compra-la de volta (esta atração terá um papel importante na história mais tarde).
Uma área chamada King Louie’s Playground, cheia de atrações para as crianças, também foi adicionada.
Com todas as novidades, a visitação foi crescendo no Kentucky Kingdom. Em 1991, o número de visitantes mais que dobrou para 302 mil. Sendo assim, Hart e sua equipe decidiram acrescentar um novo conceito.
Olá, Hurricane Bay
Apenas um ano após o Kentucky Kingdom ser reaberto (pela primeira vez), Hart decidiu acrescentar um parque aquático. Perguntou-se o porque de outros parques que tinham parque aquático ter os portões de ambos separados - e os preços para entrar em cada um também eram diferentes - sendo assim pensou: em vez de adicionar uma nova montanha russa de 10 milhões de dólares, por que não acrescentar um parque aquático pela mesma quantidade e que também funcionaria como uma atração para o parque temático? Kentucky Kingdom foi o primeiro parque a introduzir este conceito, de acordo com Hart, e outros parques tem seguido seu exemplo.
Hurricane Bay, como se chamou o parque aquático, ganhou uma enorme piscina de ondas e foi aberto através de uma ponte que o separava do resto do Kentucky Kingdom. Outras atrações também foram adicionadas naquele ano, como a Giant Wheel, uma roda gigante de 45 metros de altura que dava vista para ambos os parques, e um Carrossel.
O parque aquático teve um impulso em 1993, quando quatro toboáguas foram adicionados e, um ano depois, a atração Mile High Falls (imagem abaixo) foi inaugurada. No momento em que abriu a atração foi a mais alta do gênero em todo o mundo! Naquele ano também houve uma mudança no nome do parque. Rebatizado de Kentucky Kingdom: The Thrill Park.
Mais atrações que quebraram recordes foram inauguradas nos próximos anos, incluindo T2: Terror to the Second Power. Esta SLC (Suspended Looping Coaster) da Vekoma foi a primeira do tipo na América do Norte e a segunda no mundo, depois da Holanda. E Chang (imagem ao lado), uma montanha russa Stand-up da B&M, que bateu recordes em todo o mundo pela sua altura, queda, comprimento e número de inversões.
Mas nem todas as notícias foram boas para o parque. Em 26 de julho de 1994, dois trens se colidiram na montanha russa Starchaser, causando um colapso pulmonar e um rim dilacerado em uma menina de 7 anos de idade, ferindo também diversos passageiros. Cinco processos foram abertos contra o parque, e a atração foi vendida no ano seguinte para um parque em Nova Iorque chamado Darien Lake, que instalou novos freios e um sistema de segurança computadorizado. (Este parque renomeou a montanha russa para Nightmare at Phantom Cove, porém mais tarde a mesma foi vendida novamente para um parque da cidade chamado The Great Escape, onde foi mais uma vez renomeada para Crack Axle Canyon.)
Kentucky Kingdom também abriu uma torre de queda livre da Intamin com 53 metros de altura, na temporada de Halloween de 1997.
Naquele ano, Hart vendeu os direitos de exploração do parque por US$ 64 milhões para Premier Parks, que iria comprar a rede Six Flags alguns meses mais tarde. De 1990 a 98 o parque foi considerado um dos que mais cresceu rapidamente no país e mais atrações foram adicionadas: Twisted Sisters, uma montanha russa de duelo de madeira; Thunder Run (imagem ao lado), outra montanha russa de madeira; The Quake, uma espécie de Top Spin da Vekoma; e a Roller Skater, uma montanha russa infantil. A visitação do parque também subiu, atingindo 1,12 milhão de visitantes por temporada em 1997.
Sob nova direção
No momento em que os direitos de exploração do parque foram vendidos, Kentucky Kingdom estava atraindo mais visitantes do que o Kentucky Derby (turfe/corrida de cavalo) em Churchill Downs. Em 1998, o parque teve outra mudança de nome: Six Flags Kentucky Kingdom. Six Flags, que agora é a maior corporação de parques de diversão do mundo com base no número de parques que administra nos Estados Unidos, Canadá e México, 18 no total. A rede é a quinta, atrás da Walt Disney Parks & Resorts, Merlin Entertainment, Universal Studios Recreation Group e OCT Parks China em termos de visitação anual.
Em 1984, assim que a empresa adquiriu o parque temático Great America, em Illinois, Six Flags também recebeu os direitos de uso de imagem dos Looney Tunes, da Time Warner/Warner Bros. em seus parques. Então o Kentucky Kingdom, um parque a ser adicionado a rede Six Flags em 30 anos, teve a sua área dedicada as crianças King Louie’s Playground totalmente reformulada para receber os personagens da Looney Tunes. Uma variedade de mercadorias da marca foram espalhadas pelas lojas da área.
Como Six Flags também recebeu o direito de uso
de personagens da DC Comics, como o Batman, Superman e Mulher Maravilha, planos do parque tinham como propósito mais alterações, como uma das áreas sendo rebatizada de Gotham City. Várias atrações estavam nos planos, como a montanha russa Chang que passaria a ser chamada de Riddler's Revenge (mesmo nome da montanha russa Stand-up do Six Flags Magic Mountain) e T2 seria chamada de Batman: The Ride, porém os planos para tais alterações foram descartados. Apenas o The Penguin’s Blizzard River, uma atração aquática perto da T2, teve um tratamento diferente e recebeu um dos personagens de Gotham City.
Como Six Flags havia entrado rápido, Hart queria sair, embora inicialmente não tinha a intenção. Hart tinha concordado em gerenciar o Kentucky Kingdom por cinco anos, porém ele fechou um acordo de demissão depois de apenas três meses, pois não gostava do estilo de gestão da nova empresa - ele também não gostou do fato de que a nova empresa se desfez da comissão de segurança do parque. Mas como, agora, o negócio com parques de diversões já estava em seu sangue, Hart passou a transformar e reerguer um parque na cidade de Arkansas, chamado de Magic Springs. Mais tarde sendo referido como "Tragic Springs" (pelo desastre que foi a tentativa) com um novo parque aquático chamado Crystal Falls.
Mais problemas à frente
Enquanto isso, em Louisville, Six Flags estava enfrentando alguns problemas grandes. A empresa estava se afogando em dívidas depois de comprar e adquirir muitos parques, sendo assim obrigada a parar de investir no Kentucky Kingdom. Várias atrações foram fechadas e/ou transferidas para outros parques. Avarias na montanha russa Vampire obrigou o parque a remove-la. Mais tarde ela seria reinaugurada no Six Flags New England com o nome de Flashback. O The Quake também não estava em suas melhores condições e também foi removido. A montanha russa de madeira Twisted Sisters teve que, em 2002, ser renomeada para Twisted Twins por conta de um processo movido pela banda americana de heavy metal Twisted Sister.
Um acidente horrível
O fluxo de visitação já estava caindo em 2007, quando a torre Hellevator foi re-tematizada e renomeada para Superman: Tower of Power. Depois disso chegou o pior dia da história do parque.
Em 21 de junho daquele ano, uma menina de 13 anos de idade embarcou com seus amigos em sua segunda volta na Superman: Tower of Power. Logo após a gôndola em que ela estava começar a subir, um dos cabos de aço arrebentou. A menina ficou enrolada com o cabo e, enquanto ela havia conseguido tirá-lo do seu pescoço antes de atingir o topo, ele ainda estava preso aos seus pés durante a queda. Como resultado, seu fêmur esquerdo foi quebrado e seus dois pés cortados.
O operador do brinquedo havia ouvido o estalo dos cabos partidos, mas disse que não era fora do comum os berros dos passageiros na atração. Testemunhas disseram que os cabos haviam se partido quando as gôndolas estavam a 10/13 metros de altura, e os passageiros estavam gritando para parar o brinquedo, porém o operador não apertou o botão de emergência, até que foi tarde demais.
O departamento de investigação da cidade disse que o cabo se rompeu devido a fadiga e deterioração e eles, junto com um técnico, disseram que o parque poderia ter evitado o acidente se tivesse seguido o protocolo de segurança e manutenção de forma correta. Alegaram também, que se o operador do brinquedo tivesse apertado o botão de emergência parando a atração imediatamente, as lesões teriam sido evitadas.
Os médicos conseguiram colocar de volta um dos pés da menina, e os funcionários do Kentucky Kingdom foram treinados rigorosamente e um duplo controle de segurança foi adotado em todas as atrações. Porém depois que a família da garota processou o parque, a Superman: Tower of Power foi removida em 2008. O total pago a família não foi revelado, mas o dinheiro foi suficiente para os gastos com a vida da adolescente e pagar suas contas médicas, que chegaram a um custo de meio milhão de dólares.
Os problemas com dinheiro continuaram no parque. Por conta da crise na rede Six Flags, uma área inteira do parque foi fechada. Mas um fechamento ainda maior estava por vir.
Fechando as portas
Alguns anos depois do acidente na Superman: Tower of Power, o Six Flags desligou todo o parque. A empresa também estava enfrentando falência naquele momento, bem como a rejeição de um contrato para comprar as terras do Kentucky Kingdom. A visitação do parque por temporada tinha caído pra menos de 500 mil visitantes. O Six Flags retirou todas as menções aos personagens da Looney Tunes e DC Comics e algumas atrações foram realocadas para outros parques da rede - Chang e uma Wild Mouse Coaster, chamada de Road Runner Express. As outras atrações ficaram em Louisville, deixadas para se deteriorarem com o tempo e sem nenhuma manutenção. O Kentucky Kingdom virou um parque abandonado.
Dois anos mais tarde, um raio de esperança surgiu. Os donos do Holiday World & Splashin’ Safari em Santa Claus, Indiana, cerca de uma hora de distância do Kentucky Kingdom, anunciaram que estavam estudando a possibilidade de reabrir o parque. Eles até surgiram com um novo nome - Bluegrass Boardwalk - juntamente com um logotipo e até mesmo um anuncio de abertura de vagas em sua página oficial no Facebook a serem contratados para trabalhar no parque. Mas, no fim das contas, o projeto não foi adiante. O Holiday World queria remover e adicionar novas atrações como fazem em sua propriedade, no local onde o parque estava localizado, em vez de ter que lidar com a burocracia das terras alugadas da feira de Kentucky.
Um nome familiar
Kentucky Kingdom permaneceu fechado por mais dois anos antes de um acordo finalmente ser fechado. Quase US$ 50 milhões foram usados para reabrir o parque e a maior expansão de todos os tempos estaria vindo, graças a Ed Hart.
Hart tentou reabrir o parque mesmo antes da ideia do Holiday World e seu Bluegarss Boardwalk, mas seu primeiro acordo não foi aceito. Porém depois que o Bluegrass Boardwalk não foi pra frente, Hart voltou com outra ideia - desta vez prometendo voltar o parque ao seu auge em 1990.
Mais atrações foram adicionadas para a reabertura do Kentucky Kingdom em 2014, incluindo três na área dedicada as crianças que foi renomeada novamente para King Louie’s Playground. Uma montanha russa azul brilhante chamada Lightning Run, também foi adicionada. A atração foi a primeira nova montanha russa no parque em quase 15 anos. São 30 metros de altura, 762 de extensão e uma velocidade que chega a 88 km/h. Até mesmo uma torre de queda livre para substituir a Superman: Tower of Power fez sua estreia, chamada de FearFall. Hurricane Bay também recebeu uma expansão que duplicou o seu tamanho, a um custo de US$ 10,5 milhões, que recebeu o mais alto toboágua do país na época, além da montanha russa aquática Deluge.
Milhares de fãs do Kentucky Kingdom estavam ansiosos para conferir a reabertura do parque, mais uma vez, e mais de 100 mil ingressos para a temporada foram vendidos facilmente.
Quando o parque foi reaberto em 24 de maio de 2014, 50 atrações estavam operando e o atendimento atingiu 600 mil visitantes ao longo da temporada. Naquele ano, um em cada dez moradores de Louisville, e arredores da cidade, compraram um season pass (passaporte para a temporada). E tanto na faixa etaria de 6 a 17 anos, esse número era de um a cada quatro.
Mais seguranças e oficiais de polícia reforçaram o parque para evitar encrenqueiros longe o bastante para tornar o parque familiar. E, uma vez já reaberto, Kentucky Kingdom forneceu emprego para milhares de moradores da região.
Na temporada de 2015 mais atrações foram adicionadas ou reformadas, incluindo a montanha russa agora chamada de T3 (antiga T2); Cyclos, um pêndulo que gira no ar em 360º; o Enterprise e o Raging Rapids River. Uma nova atração indoor também foi adicionada, o 5D Cinema - trazendo Dorothy e seus amigos em aventuras pelo Mágico de Oz. Com todas essas novidades, o número de atrações agoram saltara para 60 e além de tudo isso, Hart conseguiu trazer de volta a comissão de segurança que, segundo ele, recebe tudo que precisa para se certificar que funcione.
No ano passado o parque ainda ganhou alguns títulos, como a nomeação de um dos 10 melhores do país pela MSN Travel e um dos 10 parques para ficar de olho pelo Los Angeles Times. Atrações do parque também tem sido destaque na televisão, como no canal Travel Channel, no quadro "Xtreme Water Parks".
O que vem a seguir?
Kentucky Kingdom tem planos para manter o caminho do sucesso, adicionando mais atrações a cada ano (incluindo a Storm Chaser, uma montanha russa híbrida com inversões, neste ano). O parque também está investindo pesado no marketing para trazer aqueles que buscam emoções nos parques próximos como o Holiday World e Kings Island (Ohio). Além disso, o parque adicionou alguns privilégios para aqueles que adquirirem o passaporte da temporada, como refrigerante e protetor solar gratuito (que é oferecido há anos no Holiday World), estacionamento gratuito e 20% de desconto nas mercadorias dentro do parque.
No entanto, ao contrário de anos passados, o parque retirou o evento Fright Fest (evento de Halloween) do seu calendário. Hart explicou que já existe uma abundância de eventos do tipo na região, mas não descarta voltar com ele em algum momento futuro.
Só o tempo dirá se haverá mais alguma volta ou reviravolta nessa montanha russa que é a história do Kentucky Kingdom, mas por hora, o futuro parece brilhante para este marco na cidade de Louisville.
Texto original publicado no Theme Park Tourist
Traduzido pelo Parqueiros Anônimos
Como um parque temático abandonado como o Kentucky Kingdom voltou a operar... e com sucesso!
Reviewed by Redação PA
on
quarta-feira, junho 15, 2016
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